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Doldrums: origem do nome

Doldrums
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Já ouviu falar dos Doldrums? Para navegantes de cruzeiro, principalmente velejadores que se aventuram nas regiões de baixas latitudes bem próximas do Equador, este nome pode soar familiar. Além de um curioso fenômeno, também é curiosa a origem do seu nome.

Quando estudamos a circulação geral da atmosfera do planeta Terra, descobrimos que existe um padrão de circulação das massas de ar. Ou seja, o padrão geral de ventos no nosso planeta. Obviamente, por ser um padrão de escala planetária, ele acaba sendo modificado de forma regional ou local mas, mesmo assim, este padrão estará sempre presente. Para entendermos o que são os doldrums, precisamos falar dos ventos alísios, que fazem parte da circulação geral do planeta.

VENTOS ALÍSIOS

Tanto no hemisfério norte quanto no hemisfério sul do planeta, em tornas das respectivas latitudes de 30º, forma-se o que costuma-se chamar de um cinturão de altas pressões. Nestas regiões (chamadas também de “horse latitudes” – mas isto é assunto para outro artigo), em geral encontram-se altas pressões atmosféricas. Entre outros efeitos, e de forma bem simplificada (os meteorologistas que me perdoem!), nestas regiões temos massas de ar descendentes. Ou seja, massas de ar vindas de altitudes elevadas para altitudes mais baixas, descendo em direção à superfície da Terra.

Ventos Alísios, Cinturão de alta pressão e ZCIT

Depois que essas massas de ar descem, elas podem se dirigir para o Sudeste (criando os chamados “Ventos de Oeste”) ou para o Noroeste. São estas últimas massas de ar, movendo-se para Noroeste a partir da latitude de 30º em direção ao Equador, que são os chamados “Ventos Alísios”. Também chamados de Ventos de Leste (pois a direção do vento é sempre de onde vem o vento! E eles vem de leste em ambos os hemisférios), os Ventos Alísios são famosos pela sua constância. E quanto mais próximo do Equador, mais caracterísiticos ficam esses ventos.

Na viagem que estas massas de ar fazem das latitudes de 30º para as latitudes baixas próximos do Equador, elas vão adquirindo energia na forma de vapor de água. Como você deve saber, o ar é capaz de conter uma certa quantidade de vapor de água, e como essas massas viagem por regiões quentes do planeta, é de se imaginar que carreguem junto uma boa parte de vapor de água. O resultado geral é que a região equatorial recebe todos os dias toneladas e toneladas de água em forma de vapor, levadas pelos Ventos Alísios.

ZCIT

Quando chegam no Equador, os ventos alísios do hemisfério sul e norte se encontram, e o resultado geral é que ali os ventos fluem com uma direção predominante de leste para oeste. Mas não só isso. Forma-se ali uma região de baixa pressão, e estas massas de ar começam também a subir para altitudes mais elevadas. Neste processo, todo o vapor de água carregado por essas massas de ar acaba por se condensar em grande parte e, neste processo, libera sua energia. E o vapor de água, fisicamente, é um excelente “reservatório” de energia calorífica! Eis aí a principal origem da ITCZ ou ZCIT.

ITCZ (Inter Tropical Convergence Zone) ou ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) são regiões junto ao equador com tempestades ativas durante todo o ano, seja de dia ou de noite. As milhares de toneladas de vapor de água que chegam diariamente a essa região do globo, ao subir junto com as massas de ar, se condensam, despejando na atmosfera vários MegaJoules de energia. Resultado: tempestades constantes, conforme apontamos anteriormente. Na região nordeste brasileira, temos os famosos “Pirajás”, tempestades repentinas, que já são uma primeira manifestação da ZCIT.

DOLDRUMS

Mas nem só de tempestades tropicais vive a região equatorial. Temos também os doldrums.

Um sol escaldante torrando a cabeça dos navegantes. O azul do céu se confunde com o azul do mar, que agora parece um espelho, de tão parado. O anemômetro do barco ficar sempre na mesma posição, indicando a última lufada de vento que havia pego dias atrás. O calor e umidade tornam as vestes incômodas. Em um veleiro, estender a vela só servirá para tentar fazer alguma sombra a bordo para reduzir a temperatura do convés. Se houver alguma brisa, ela será quente, e virá somente devido ao próprio movimento do barco, impulsionado pelo seu motor. Em contraste com as tempestades repentinas da ITCZ, temos na região tropical algo bastante diverso, conforme descrevemos agora. Estes são os doldrums.

Neste encontro dos ventos alísios do hemisfério norte e hemisfério sul do planeta, além de toda a umidade que se transforma nas constantes tempestades da ITCZ, formam-se bolsões de extrema calmaria, onde nenhum vento sopra. É que em torno desses bolsões de calmaria, essas massas de ar vindas de latitudes elevadas que são os ventos alísios, já ascenderam a altitudes mais elevadas, e agora nenhum vento sopra dentro desses bolsões. Navegar e principalmente velejar dentro desses bolsões é uma tarefa de paciência, onde por vários dias a fio o cenário será aquele descrito no parágrafo anterior.

Em épocas que não se contava com motores para impulsionar os barcos, era comum os navegantes ficarem presos nestas regiões por dias, semanas e em casos extremos, até mesmo meses. Não por acaso, esta completa calmaria recebeu o nome de Doldrums.

ORIGEM DO NOME DOLDRUMS

A palavra “doldrum” remete à palavra “dol” ou “dold” do inglês arcaico, que significava “enfadonho, estúpido”, sendo que o primeiro uso documentado da palavra para substantivar estas regiões de extrema calmaria por dias seguido foi no ano de 1811.

Atualmente, se colocarmos no Google “Doldrums”, somos agraciados com as seguintes definições alternativas para a palavra: “depressão”, “abatimento”, “estado de estagnação e topor”. Não é à toa: pode-se imaginar o que passavam os antigos navegantes ao ficar por semanas boiando nesta região. Naquela época, antes que qualquer vento os tirasse de lá, muitas vezes viam-se os mantimentos acabando-se e doenças se alastrando. A palavra, entretanto, parece ainda ser atual já que, mesmo com um motor e as facilidades atuais, é comum passar-se vários dias dentro da mesma calmaria.

O interessante é que a palavra Doldrum nasceu de uma palavra do inglês arcaico coloquial, tomou ares marinheirios (ao designar esta região do planeta), e depois migrou novamente para a língua coloquial. Hoje, na língua inglesa, doldrums é reconhecido como sinônimo de marasmo, além de manter seu significado marinheiro.

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